domingo, 29 de novembro de 2015

Mar de Lama

Mar de Lama

E o que todo mundo
Sempre soube foi gravado 
E por isso sacramentado
Cujo prisioneiro privilegiado
Plantou o medo no coração
Dos seus engravatados pares
Independente das suas cores
De que a ponta do iceberg
Vai devastar todos
E toda lama invisível
Se misturou àquela outra
Cuja população engoliu
Regurgitando metais
Colocando tudo para fora 
Do seu caminho em direção
De um mar, agora doente,
Na vã esperança
De que todo esse caos
Nos faça aprender 
Uma lição tão óbvia, 
Mas insistentemente
Ignorada.

Luís Roder )

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Arte de Contar Histórias

A Arte de Contar Histórias

A arte de contar histórias traz em si responder à necessidade primária dos ser humano de perpetuar a sua existência e repassar os seus conhecimentos às gerações posteriores.
Isso vem sendo feito desde os primeiros pictogramas das cavernas dos nossos ancestrais na busca em deixar registrado as suas lutas cotidianas e alertar as futuras gerações de como deveriam proceder ante aos perigos a serem enfrentados.
Com o desenvolvimento da oralidade e com o tempo restante que começava a sobrar, com os parcos confortos alcançados pelas descobertas dos homens, surge também outro objetivo: explicar os fenômenos que os cercavam como o amanhecer, a morte e todos os sortilégios que a natureza e o mundo fenomenológico mantinham ocultos aos seus curiosos olhos.
Essas histórias passam a ficar cada vez mais elaboradas e também fantasiosas, mesmo trazendo em si verdades absolutas de determinadas épocas, até que outra descoberta as desmentisse e pudesse gerar uma nova versão das mesmas.
E esse fenômeno vai acontecer em todos os lugares do mundo, se desenvolvendo de acordo com especificidades regionais, mas mantendo um traço em comum: contar e registrar a história de um grupo e repassar conhecimentos de suas regiões.
Lembrando que esses conhecimentos específicos têm relação direta com o seu dia a dia e a região em que moram, onde em lugares tropicais a selva e as chuvas terão destaque e lugares áridos a sobrevivência e a necessidade de preservar alimentos e água, ou em locais em que o gelo e as épocas de se preparar para as temporadas de nevasca por exemplo.
Além disso, elas trarão as grandes questões da vida como o nascimento, a morte, os rituais reproduzidos por cada grupo e seus respectivos significados e simbolismos. Também repassarão conceitos de comportamento e conduta, seja com bons exemplos dos seus protagonistas ou “morais” reportadas e penalizadas por seus antagonistas.
Com o advento da imprensa e as trocas comerciais entre regiões diferentes, esse processo se difundirá de tal modo que surgirão as fusões entre as diversas histórias contadas no mundo e a sua interação, além da descoberta das semelhanças de comportamento, assim como a surpresa das diferenças em ver as mesmas coisas observadas em regiões e culturas diferentes.
Mas acima de tudo, nada é mais intenso e prazeroso do que ouvir uma boa história contada com gestos largos, expressões exageradas e várias vozes diferentes a encantarem mentes ávidas por verem a magia do mundo que nos rodeia, para num futuro o descobrirem como ele é e novamente o travestirem de fadas, princesas, sacis, montanhas encantadas e vários outros seres ainda a serem criados pela imaginação humana na sua tentativa de amenizar a dureza de viver e tentar entender esse processo.


( Luis Antônio Roder )

domingo, 22 de novembro de 2015

A Morte À Espera

A Morte À Espera

O sentido da vida
Só se apresenta
Ante à inevitabilidade
De antes de cerrarmos os olhos,
Talvez pela última vez,
Pois nem isso sabemos
Também ao certo,
Buscarmos uma eternidade
Falsamente confundida
Com uma imortalidade,
Onde numa entrevista
Com um vampiro,
Possamos descobrir que a experiência
Acumulada em um corpo mortal
A esvazia de sentido
Justamente por ela se repetir,
Contínua e infinitamente,
Nos mesmos ciclos
Em diferentes eras
Das mesmas coisas de sempre...
Sempre sem sentido real.
E se isso não tiver,
Um dia, um fim.
Então saberemos o que é
De verdade o inferno!

Luís Roder )

Aqui e Agora

Aqui e Agora

Estar no lugar errado
Na hora errada
Pode causar muitos problemas.
Alguns irreversíveis...
Tal como o ser humano
Cumprindo a sua divina missão
Tão sem sentido
Neste planeta,
Nesta era,
Neste Universo...

Luís Roder )

Todos Os Homens São Mortais

Todos Os Homens São Mortais

Todos os homens são mortais
E também dotados 
De uma fértil imaginação
A qual lhes permitiu
Criar deuses onipresentes
E de volta eles prometeram
Uma fictícia imortalidade
Àqueles que serão traídos
Inevitavelmente por si mesmos
Quando a inexistência
For alcançada por todos
E não houver mais
Nenhum ouvinte atencioso
De suas ególatras fantasias.

Luís Roder )

A Cerimônia do Adeus

A Cerimônia do Adeus

Estes últimos tempos
Têm sido marcados
Por essa crescente necessidade
De registrar e catalogar tudo
Para entendermos o óbvio
E tardiamente assumirmos
A vergonhosa culpa
De nos expulsarmos de um paraíso
Que nunca foi nosso
Mas mesmo assim o tomamos a força
E depois de brutalmente violentá-lo
Não tivemos mais coragem
De olhá-lo nos olhos
Na nossa inevitável despedida 
De mamíferos virais
Que não deixarão nenhuma saudade
Na nossa melancólica cerimônia do adeus.

Luís Roder )

Amenizando Tudo

Amenizando Tudo

O homem no objetivo
De amenizar a descoberta
Do sentido real de tudo,
Que obviamente é não existir
Real propósito nessa tragicomédia
Perpetrada inocuamente por todos,
Criou a arte como instrumento
A enobrecer a sua luta
Em dar a uma pergunta 
Sem resposta eficaz
Uma beleza trágica,
Tornando toda a sua fugaz epopeia
Muito mais suportável.

Luís Roder )

sábado, 14 de novembro de 2015

Imagine

Imagine

O poeta de Liverpool
Pediu um mundo sem fronteiras
E as pessoas todas juntas
Vivendo em paz...

Mas infelizmente, muitos,
Nesse insignificante planeta
Egoísta e dividido em facções,
Não tenham tanta imaginação assim!

Luís Roder )

Noite de Terror

Noite de Terror

A intolerância explode
Nas ruas da Cidade Luz
Disparando covardemente a esmo
Em pessoas inocentes
Espalhando coordenadamente
Uma mensagem clara
E sem sentido algum,
Podendo se repetir de novo
Interpretando divinas palavras
De um triste modo
A envergonhar até o seu Deus
Em qualquer lugar do planeta
De um mundo divido em estados
Que é de todos
Mas é um só!

Luís Roder )

Repúdio

Repúdio

Qualquer pessoa
Em qualquer lugar,
Cuja agressão injustificável
Aconteça em nome
De qualquer causa
Em nome de qualquer ser,
Deve ser repudiada
Por qualquer um!
O errado é 
E sempre será errado.
E a próxima vítima
Pode ser você!

Luís Roder )

sábado, 7 de novembro de 2015

Cara de Pau

Cara de Pau

A maior cara de pau
Não é um político mentir,
Independente da sua cor 
Ou lateralidade,
Sem se preocupar
Com que todos vejam
O quão deslavada ela o é!
Mas sim nós a aceitarmos
E continuarmos seguindo em frente
Como se isso fosse algo normal...

Luís Roder )

Renúncia

Renúncia

Me ofertaram uma suspeita eternidade
Envolta em uma promessa
De um êxtase divino
Onde anjos cantariam em júbilo
Uma felicidade sem sentido
Na simples condição de renunciar
A única vida que conheço
Repleta de pequenos prazeres
E algumas misérias cotidianas.
Sem pestanejar, 
E educadamente,
É claro que recusei!

Luís Roder )

Convivência Diária

Convivência Diária

E dia a dia
Vamos estreitando as afinidades
Elaborando as diferenças
E descobrindo que a nossa consonância
É muito mais intensa e profunda
Do que sequer podíamos imaginar!

Mas isso não quer dizer
Não haver surpresas ou mistérios
Entre nossas mentes dementes
E corações ardentes
De corpos tão confidentes
E desejosos um do outro.

Luís Roder )

Representação

Representação

Votamos e escolhemos nossos representantes
Para que possam agir de acordo
Com os interesses egoístas
Das suas necessidades de manter
Um povo subserviente e domesticado
Sem questionar as suas suspeitas escolhas
Fazendo-nos acreditar que as suas esmolas
Feitas de pão e circo
Serão suficientes para nos enganar,
Achando ser um grande favor
O que na verdade é obrigação.

Luís Roder )

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Geração Digital

Geração Digital

A engano fatal 
Dessa nova geração digital
Não está na arrogância,
Tão comum e esperada 
Em qualquer uma delas,
Ou em pensar saber tudo,
Muito em função 
De tanta informação
Disponível na ponta do dedo,
Mas sim em recursar ouvir
Como processá-la,
Pois nem sempre
Quantidade será qualidade!

Luís Roder )

Conhecimento Inócuo

Conhecimento Inócuo

Ele era o maior enólogo
Que havia naquela região
Tão árida e pobre
Cujos vinhos tinham desaparecido
Há muito tempo atrás...

Igualzinho a muitos professores,
Hoje em dia,
Tentando ensinar aos alunos,
Que acham saber tudo,
Sem a menor vontade de aprender!

Luís Roder )

Paradoxo Existencial

Paradoxo Existencial

A mesma Humanidade
Cujo o imenso sadismo
De continuar perpetuando
Uma tortura intensa 
Entre os seus iguais,
Que não o são tão assim...
É a mesma que a cada geração
Avança na ciência e tecnologia
Pregando uma Igualdade,
Liberdade e Fraternidade
Cuja ascensão espiritual
Será um dia revelada
Entre trombetas de anjos
E tempestade de chamas
A consumir avassaladoramente
Toda a sua arrogante inocência
De criança mimada.

Luís Roder )

Horário Político Gratuito

Horário Político Gratuito

Lugar mítico e imaginário
Feito de grandes mentes
Dotadas de profundas boas intenções
De resolver os problemas da nação
Sem querer nada em troca!

Quem sabe...
Talvez...
Um ou outro ministério
Ou alguns cargos.

Luís Roder )

Alimentando O Mal

Alimentando O Mal

O que alimenta o mal,
Em largas e fartas bocadas,
Não é apenas a maldade em si.
Mas a pior face dela:
Aquela feita de olhares judiciosos,
Disfarçada de arrogante conhecimento
De divinas leis arcaicas
Embasadas em suspeitas interpretações
De antigas escrituras
Perdidas em traduções
Feitas de acordo 
Com as segundas intenções
De poder apontar no outro
Aquilo que temem 
Não poder encontrar 
Em si.

Luís Roder )

Amante Insaciável

Amante Insaciável

Ah meu súcubo insaciável...
A drenar meu corpo
E as suas energias!
Me devora lentamente...
Deixando meus pés ardentes
Com as suas agulhadas intermitentes.

Só ela não sabe ainda
Que no final da nossa história
A levarei junto a mim,
Pois não tenho filhos
De doce sangue como o meu
Para com essa maldita diabetes presentear!

Luís Roder )