Quarentena
Da sala para o quarto,
Na cozinha a geladeira ilumina
O entediado rosto
De quem continua a fazer
A mesma pergunta
E a resposta continua a mesma .
Os felinos já se acostumaram ,
A nova rotina pede tenacidade
Em fazer o que é melhor a todos
Com cada um no seu lugar.
Mas as notícias não animam.
A Rainha Infantil não ajuda,
Nadando na contramão
De um mundo isolado
Da sociedade de janelas
E portas fechadas .
As horas passam
Sendo sempre as mesmas,
Os números aumentam ...
Uma ascendente vertiginosa
Conta uma história assustadora.
Aqueles que precisam sair
E lutar pelos outros
Detrás de máscaras ,
Às vezes contra a ignorância,
Cujo o anonimato
Engrandece a obra
De heróis em uma guerra cruel
Em que cada vítima ofegante
Não tem sequer direito
À cerimônia do adeus
E em feridas abertas
Na Terra fria e atônita
Somos finalmente iguais
A negarem o óbvio
E aceitarem o inevitável
Onde os dígitos diários
Nos embrutecem e atônitos
Nos conformamos com quatro casas
E é em casa, cada um na sua,
Em resiliente luta inerte ,
Onde será possível ajudar
Aqueles cuja única opção
É enfrentar o que não podemos ver
Mas nunca mais poderemos esquecer.
( Luís Roder )